Drogas
Drogas e Criminalização da Pobreza
O debate sobre a questão das drogas na nossa sociedade sempre foi coberto de falsas verdades. Por muito tempo mentiras foram inventadas, debates foram distorcidos, discursos foram criados puro e simplesmente para manter a questão das drogas como questão de segurança pública, de desvio de conduta, de crime contra ordem. É evidente que esta posição tomada historicamente reflete um projeto de sociedade calcada nos interesses da classe dominante. As drogas sempre estiveram presentes nas diversas formas de organização societária, seja com fins religiosos, recreativos ou medicinais, porém a sua criminalização, ou seja, a postura negligenciadora do Estado em não compreender a questão das drogas como parte da sociedade, demonstra a necessidade real de retirarmos o muro de fumaça que embaça o debate político e sustenta o extermínio,o medo,o ódio e a negação de direitos.
Conjunturalmente, o Estado brasileiro motivado pela guerra internacional ao terror – entende-se por terror toda ação coletiva que coloque em cheque a ordem estabelecida – tem encarado no tráfico de drogas e nas favelas a representação máxima do terrorismo moderno, a personificação do inimigo. Está claro para nós, que a relação entre tráfico e favela demonstra um problema social construído historicamente na nossa sociedade. Se antes o povo negro, trabalhador e oprimido se concentrava nas senzalas, nos guetos, hoje este local é a favela.
É lá onde se materializa a realidade de um povo que teve, no decorrer da história seus direitos à educação, saúde, trabalho e moradia negados. Para tanto, o Estado brasileiro e seus governos sustentam, através da mídia, o discurso da paz armada que legitima para toda sociedade a ideia de acabar com as drogas através da arma, da polícia invadindo favela a procura de traficantes. Logo, o imaginário social construído, nos diz que é na favela onde se encontra os criminosos. É a partir daí que surge o discurso ofensivo e determinista de criminalizar o povo pobre da favela.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPP's) criadas no governo de Sérgio Cabral e reproduzida por Dilma como política nacional de Segurança Pública, nos mostra que por trás das ações heroicas de polícias em defesa da ordem, está a política macro de higienização da sociedade, que invade a casa de trabalhadores e trabalhadoras, que extermina jovens e crianças negras com balas perdidas na cabeça, que instala o terror e que proíbe o povo pobre e favelado de se manifestar como tal.
Portanto, a guerra contra às drogas é, em sua raiz, uma falácia. Primeiro porque a atuação não se dá na raiz do problema que é o grande tráfico internacional, mas contra o mercado de varejo ou pequeno mercado feito nas favelas por jovens que tem em suas vidas duas opções: matar ou morrer. Segundo porque o Estado atua às avessas, negando direitos básicos e exterminando a população que mais necessita destes direitos.
Por fim, no atual momento de crise conjuntural e de enfrentamento direto entre as classes, é necessário que façamos um debate crítico acerca das questões relacionadas às drogas pela perspectiva do oprimido, nos posicionando contrários a qualquer tipo de política que queira destruir objetiva e subjetivamente a nossa classe.