Meio Ambiente e Questão Agrária

"O Homem é o único animal que pode permanecer, em termos amigáveis, ao lado das vítimas que pretende engolir, antes de engoli-las.”

- Samuel Butler  (1835 - 1902)

LUTAR PELO SOCIALISMO É LUTAR PELA NATUREZA!

Estamos vivendo um período no qual são constantes os noticiários, avisos e graves constatações sobre a questão ambiental. Não é indiferente a nós, estudantes de todas as partes do Brasil, os atuais desastres ditos “ambientais” que estão ocorrendo em nosso país e mundo afora.

Existe uma questão que a mídia não nos conta, ou se conta, não o faz como deveria. Forçam-nos a entender que estamos no meio de algo que é descontrolado e que age por si, como se tivesse vontades e desejos. Não é à toa que escutamos a todo momento que a natureza está “dando o troco”, que está “se vingando das pessoas” por estarem lhe causando tanto mal.

Além disso, as atuais condições do desenvolvimento científico que é transplantado para o setor agrícola e energético em todo mundo, sobretudo nos países agroexportadores, como o Brasil, revelam uma enorme contradição: O tão aclamado desenvolvimento científico não é capaz de proporcionar desenvolvimento humano para a maioria da população. Não por acaso, percebe-se também que o discurso da “sustentabilidade” tem ganhado cada vez mais espaço e popularidade com a promessa tacanha de que é possível estabelecer uma harmonia entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico.

Tanto a contradição entre desenvolvimento científico, quanto a falsa ideia de sustentabilidade são explicadas por um simples motivo: É impossível conciliar de maneira plena o atendimento das necessidades humanas e a preservação do meio ambiente com a lógica destrutiva e incontrolável do capital. No capitalismo a interação entre homem e natureza é direcionada pela busca constante do lucro, que só é possível pela exploração descontrolada do trabalhador e da natureza. Para compreender melhor esta relação, e também para superá-la, é necessário ter clareza que a mediação entre homem e natureza se dá através do trabalho, ou seja, da modificação direta ou indireta da natureza, de acordo com os interesses humanos.

Existe uma interação metabólica entre os humanos e a terra, já que esta última sustenta a vida. Portanto o emprego de tecnologia na produção agrícola deveria ser direcionado para o atendimento das necessidades humanas levando sempre em consideração os limites naturais do solo, da água, das matas, etc. Ao contrário disso, constata-se que a introdução de maquinário no campo não se baseia na necessidade de preservação ambiental ou de promover melhores condições de vida e trabalho para o trabalhador rural, mas sim, cumpre a única função de aumentar a produtividade e a lucratividade absurda de um setor chamado agronegócio.

O agronegócio utiliza-se das novas tecnologias para expandir a produção e diminuir os custos da força de trabalho. Quando seus representantes dizem que estão promovendo o avanço da agricultura, estão na verdade aplicando técnicas agrícolas que aumentam o rendimento dos solos, exaurindo-os, com a finalidade única de obter lucratividade. Estas práticas agrícolas industriais intensivas são empregadas para manter e aumentar a produção, assim como para superar as limitações impostas pela terra e seu ciclo de nutrientes.. Sem contar que o agronegócio é um setor extremamente organizado econômica e politicamente que foi capaz de aprovar, à revelia de grande parte da sociedade, as mudanças no código florestal, legalizando a destruição de nossa biodiversidade. Esta alteração, para pior, do código florestal foi implementada única e exclusivamente com a ideia de se ampliar o latifúndio e o atual modelo agroexportador, com a ajuda da grande mídia e de parlamentares ligados ao governo Dilma, a exemplo de Aldo Rebelo (PC do B), relator do processo na câmara.

Como se não bastasse às tantas dificuldades que os pequenos agricultores já enfrentam, no campo ainda se concentram as principais causas dos problemas ambientais, e com o avanço do neoliberalismo no Brasil através de projetos desenvolvimentistas do governo Lula/Dilma, o Estado passa a ser executor de obras de infra-estrutura atendendo as demandas das transnacionais, e não as reais demandas da agricultura familiar e da população em geral. As intenções verdadeiras ficam mais claras quando observamos que o que está aumentando é a capacidade de escoamento da produção de commodities agrícolas e a instalação de complexos industriais para exportações de matérias-primas.

No país em que vigora o dito popular de que “tudo o que se planta dá”, tivemos um desenvolvimento rural em que a ocupação do campo fora feita de tal sorte que não era necessário uma re-distribuição de terra mas sim uma intervenção estatal que viabilizasse a transformação da renda da terra em capital agrário. Este processo foi feito através do que se convencionou chamar de “Revolução Verde”, que possui três pilares principais: a mecanização intensiva, os insumos químicos industriais (fertilizantes, agrotóxicos e sementes) e um arrojado sistema de crédito rural.

Hoje isso se reproduz pelo governo atual de uma forma em que é dada  abertura para as transnacionais do agronegócio, que sustentam tal modelo tecnológico da exploração intensiva do meio ambiente com a produção das grandes monoculturas. A concentração de terra no Brasil inviabiliza a produção em pequena escala, com cultivos diversificados, tecnologias ecológicas e produção de alimentos, garantindo a soberania alimentar. A reforma agrária, que desapropria grandes latifúndios improdutivos, ou terras griladas, está cada vez mais lenta, e de forma conciliatória entre o governo e os latifundiários: o governo não confisca terra, compra, garantindo ainda a legitimidade da improdutividade do latifúndio.


UMA MENTIRA CHAMADA “SUSTENTABILIDADE”!


Sustentabilbidade! Belíssima palavra que nos remete a mais concisa e harmoniosa relação “zen” entre o humano e a natureza. Entretanto, quem faz a defesa veemente desta relação hoje são as grandes corporações que ontem mesmo jogavam seus dejetos pelos rincões afora. É absurdo o fato de que uma empresa que polui litros com dejetos todos os dias vir se afirmar como uma empresa sustentável, “amiga do meio ambiente e das pessoas”.

O problema está na própria concepção do conceito sustentabilidade, que acabou por virar o mais novo lema e discurso do mundo industrial. O conceito se afirma como uma relação “amigável” entre Humanidade e Natureza, sendo no entanto, tal relação, apenas superficial, quer dizer, é sustentável para as empresas que promovem esse discurso, pois continuam lucrando altas cifras com um produto antigo, mas que contém uma cara nova - e que permite aos consumidores dormir tranquilamente a noite. Além disso, a lógica do modo de produção é a mesma, o desenvolvimentismo e a falácia do progresso ainda vigoram na cabeça dos que controlam as políticas econômicas não só no Brasil, mas em grande parte do globo. Outro desrespeito é a forma como são expostas as pessoas comuns, em sua maioria trabalhadores, uma vez que a elas é atribuída a grande responsabilidade pelos danos ambientais. Uma espécie de cupabilização individual que pode ser resolvida com uma simples adesão voluntária à “atitudes sustentáveis”.

Não há uma profundidade das reais causas da interferência do ser humano sobre a natureza, ou da importância da natureza para o ser humano. Apenas discorre-se sobre questões superficiais, em que a responsabilidade da destruição do meio ambiente é decorrente da inconsequência individual da população. No entanto, obviamente, nem toda a população é proprietária das empresas que jogam seus lixos nos rios ou que, criam aterros sanitários em algum lugar longe de qualquer fiscalização.

Tentam nos passar uma imagem “politicamente correta” e limpa através das propagandas, que variam desde shampoos da natura (uma das empresas que mais destroem o meio ambiente) aos condomínios fechados a sete chaves em meio a natureza, aumentando ainda mais a segregação social e afirmando que quem não mora em um lugar sustentável colabora para a morte da Terra, ou seja, os pobres e moradores das favelas são os grandes responsáveis.


AGROECOLOGIA: UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL

A agroecologia, nascida na década de 1980 para dar bases científicas para o desenvolvimento sustentável, buscando a transformação dos meios de produção e das relações sociais, pode dar respostas aos problemas sócio-ambientais que vem se acumulando. Uma ciência holística, sistêmica e interdisciplinar a favor das demandas da classe trabalhadora, em contraposição ao agronegócio e a apropriação da agroecologia pelo capital, seja por empresas ou por programas de governo, que resumem a agroecologia a um novo nicho de mercado ecológico e não uma ferramenta de transformação da sociedade.

Devemos romper as fronteiras do campo, pois o meio ambiente não se limita às florestas, se inserindo também no meio urbano. Não apenas na agricultura ou em áreas de ocupação urbana, mas também nas áreas jurídicas, arquitetura e construções ecológicas, formas alternativas de comercialização, distribuição e comunicação, educação e métodos pedagógicos diferenciados referenciando-se em conscientização ambiental e qualquer potencial endógeno das diferentes áreas do conhecimento que possam contribuir em todas as dimensões  da sociedade.

Defendemos a agroecologia a partir de princípios e conceitos diferenciados, caracterizada como ciência e posicionamento político claro, ou seja, uma combinação dos fatores que fazem com que a agroecologia seja uma importante ferramenta de questionamento das funções, posições e intencionalidades dos projetos políticos na questão sócio-ambiental, sendo uma via de desenvolvimento sustentável para os movimentos sociais, com tecnologias de produção de alimentos apropriadas à realidade da agricultura familiar e camponesa.


NOSSO PROJETO SÓCIO-AMBIENTAL: O SOCIALISMO


Estamos presenciando no Brasil, país extremamente rico do ponto de vista ambiental, o avanço de políticas destrutivas que promovem, a médio e longo prazo, a degradação da natureza e, por consequência, a degradação da vida humana. Para avançarmos para um patamar ecológico sustentável é preciso romper com a lógica da produção capitalista que não tem por princípio matar a fome, mas sim gerar riqueza e centralizá-la na mão de poucos.

A lógica do capital se impõe a tudo, seja ao sistema de saúde, à educação, à produção ou ao meio ambiente. Por isso é necessário, mais do que nunca, unirmos força em torno de um projeto que tenha por princípio a promoção da dignidade humana em todas as suas dimensões, pensando o homem e a natureza como uma totalidade. Um projeto socialista.