Educação
Educação no capitalismo e a necessidade de superá-la
Uma das lutas centrais do movimento estudantil é a defesa da educação de qualidade tratada como um direito, e portanto, pública e gratuita para toda a população. No entanto, é necessário iniciar esta discussão pensando um pouco no papel que a educação cumpre dentro do sistema capitalista.
A educação cumpre dois papéis fundamentais na manutenção da sociedade capitalista são estes: 1-) Formação de mão de obra em diversos graus de especialização: para a garantia das condições de produção dentro das empresas capitalistas, profissionais com diversos níveis e características qualitativas de formação precisam estar à disposição dos capitalistas, em quantidades suficientes para que os salários sejam viáveis à contratação, pois, se houver uma baixa oferta de profissionais com determinada formação necessária à indústria, os salários deles serão altos, o que prejudica a lucratividade das empresas; 2-) Manutenção e disseminação da ideologia dominante: A escola cumpre também o papel de formatar o pensamento da população de acordo com o interesse e a ideologia da classe dominante da sociedade. Valores como a competitividade, o individualismo, a ideia de que o sucesso pessoal depende fundamentalmente do esforço individual, a noção de propriedade, de hierarquia, de obediência às regras de sociedade, dentre vários outros aspectos da ideologia dominante, são ensinados no dia a dia das instituições de ensino de todos os níveis.
No entanto, quem está indignado com esta sociedade baseada na exploração deve se lançar na luta em defesa da educação tendo como objetivo a superação do modelo de educação do capitalismo em seus mais diversos aspectos, seja na proposição de uma educação que questione o modo como se dá a produção em nossa sociedade, seja no questionamento da ideologia dominante.
Nós da tese Rompendo Amarras construímos a luta para superar a educação do capital no dia a dia de nossas universidades e acreditamos que ela está presente nas diversas bandeiras dos movimentos sociais em defesa da educação.
Quando apoiamos a luta dos professores da rede básica por melhores salários e contra a superlotação das salas estamos lutando contra a exploração do trabalho destes trabalhadores e ao mesmo tempo que lutamos para que eles possam se sustentar tendo que assumir menos aulas, permitindo uma relação professor-estudante mais humanizada, ao invés de uma produção industrial de mão de obra com formação de educação básica.
Quando defendemos educação pública, gratuita e de qualidade para toda a população e o fim do vestibular, estamos lutando para que a educação seja um direito e não uma mercadoria. Além disso combatemos a farsa pregada pela mídia e pelas instituições de ensino, que tentam nos convencer o tempo todo de que o vestibular seria uma seleção dos mais preparados ou mais esforçados para que possam seguir sua formação de qualidade nas instituições mais disputadas. Combatemos com todas as forças a lógica do individualismo e da competição que a classe dominante impõe ao nosso sistema educacional.
Quando combatemos as medidas governamentais que fortalecem os grandes empresários da educação, o fazemos por que estes são os principais inimigos da luta para que a educação seja tratada como um direito, afinal, se a educação for realmente um direito de todos, aqueles que lucram milhões com a comercialização da escola, que exploram os trabalhadores da educação, que cobram mensalidades das mais abusivas, vão ter que procurar outro lugar pra ganhar dinheiro. Uma política pública que fortalece os inimigos da educação é inimiga do movimento estudantil.
Quando defendemos a assistência estudantil o fazemos por que acreditamos que a filha e o filho do trabalhador e da trabalhadora devem ter o direito a educação, por isso a moradia estudantil deve ser garantida, devem ser garantidas as condições de alimentação e transporte, deve ser garantida a bolsa de estudos para que o estudante possa arcar com as demais despesas que tiver. Afinal, para estudar não basta ter uma vaga, nós também precisamos comer, dormir, morar, transportar-nos, ter acesso a materiais escolares, dentre tantas outras coisas.
Quando defendemos que a pesquisa das universidades brasileiras deve se orientar para a resolução de sérios problemas pelos quais passa o povo brasileiro, ao invés de produzir pesquisas de interesse das grandes empresas, fazemos por que ficamos indignados com o fato de serem gastos milhões de reais em pesquisas que beneficiam os usineiros da cana, que assassinam bóias-frias de tanto trabalhar, poluem o solo e as águas e ainda assim são chamados de heróis nacionais pelo ex-presidente Lula, ao mesmo tempo em que a população morre de fome, morre por falta de saneamento básico, morre de doenças facilmente evitáveis, como dengue e febre amarela, morre por causa de deslizamentos ao serem obrigadas a morar em áreas de risco e morre vitimada pela violência policial nas periferias das grandes cidades.
O Plano Nacional de Educação
Como exigência da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, bem como em resposta à pressão dos movimentos sociais, no final da década de 1990 foi elaborado, pela primeira vez o Plano Nacional de Educação do Brasil. Dois projetos foram criados nesta época.
Um deles, desenvolvido pelos movimentos sociais e pela sociedade civil ficou conhecido como Plano Nacional de Educação - Projeto da Sociedade Civil. Este Plano foi fruto de ampla mobilização da população brasileira em torno da construção de um projeto que superasse os imensos problemas da educação brasileira. Um dos principais avanços propostos era a garantia de que ao fim dos 10 anos de duração do plano fosse garantido que o investimento público em educação pública chegasse a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro, valor este correspondente ao investido por sucessivos anos por países que precisaram superar grandes défcits do sistema educacional.
O outro projeto foi uma proposta do Ministério da Educação (MEC) alterada pelo projeto substitutivo do deputado federal Nelson Marchesan (PSDB), conhecido como substitutivo Marchesan e aprovado pelo legislativo ao final de 2000. O substitutivo, construído sem consulta à população nem diálogo com os movimentos sociais, se por um lado incorporava alguns elementos do PNE da sociedade civil, por outro rebaixava essas metas, como por exemplo o financiamento que ficou em 7% do PIB.
Mas na prática … a teoria é outra
Mesmo os 7% do PIB pra educação aprovados pelo legislativo para serem garantidos até 2010, meta bastante rebaixada se comparada com os 10% propostos pela população, não foram aprovados pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que vetou essa parte do PNE.
Em 2002, com a eleição de Lula (PT) para a presidência do Brasil muitas expectativas surgiram no movimento de que Lula derrubaria o veto imposto por Fernando Henrique, no entanto, parte da traição de Lula aos movimentos sociais brasileiros foi a manutenção desse veto. Hoje em dia a vergonhosa quantia de financiamento público para a educação pública corresponde a cerca 3,5% do PIB, quantidade muito aquém do necessário para que a educação pública básica deixe a situação lamentável que hoje se encontra, com salários baixíssimos para o professorado, salas superlotadas, falta de estrutura e condições básicas de funcionamento e que a educação superior pública, gratuita e de qualidade seja garantida como um direito de toda a população. Para se ter uma ideia, no ano de 2010, 44,93% do orçamento brasileiro (R$ 635 Bilhões) foram gastos em pagamento de juros, amortizações e refinanciamento da dívida pública, enquanto apenas 2,89% foi o investimento do governo federal em educação (cerca de R$ 41 Bilhões).
Dilma (PT), assim como Lula, também tem mantido a política tucana de gastar a maior parte do orçamento com o pagamento da dívida pública, em benefício dos banqueiros e grandes empresários, principalmente estrangeiros e em detrimento dos direitos da população, como saúde, educação e aposentadoria. Por isso mesmo mantém o veto de FHC às verbas da educação e apresenta, em seu novo PNE a meta de chegar até 2020 a 7% do PIB de financiamento da educação, mesma meta rebaixada de financiamento proposta pelo PSDB em 2000 mas com o “pequeno” agravante de estar com 10 anos de atraso. Como se não bastasse, no início de 2011 Dilma cortou R$ 50 Bilhões do orçamento brasileiro, dentre os quais R$ 3 Bilhões saíram das verbas da Educação.
O Plano Nacional de Educação que os estudantes devem defender não deve se submeter às migalhas propostas pelo governo federal, pois a educação não sobrevive com gorjeta. Exigimos 10% do PIB de financiamento público para e educação pública e exigimos pra JÁ!
As políticas educacionais dos governos Tucanos e PTistas
Para que os estudantes possam se posicionar, avaliar e apresentar seus projetos de políticas educacionais para o Brasil, uma tarefa fundamental é identificar quem está a favor e quem está contra a luta fundamental do Movimento Estudantil: a luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para toda a população em todos os níveis.
Quem ganha dinheiro com a ausência desse direito são os empresários da educação. Os donos das grandes redes de cursinho, de escolas, faculdades e universidades são portanto os grandes inimigos da principal luta do Movimento Estudantil! Portanto, qualquer política pública que fortaleça, incentive ou salve das crises estes que são os maiores interessados em manter a educação como uma mercadoria, e não como um direito, é uma política pública que deve ser combatida pelo Movimento Estudantil e é com este olhar que devemos avaliar o que é bom ou ruim de acordo com nosso projeto de educação.
A expansão das Universidades privadas
Desde 1994, temos evidenciado um sério incremento do número de instituições de educação superior privadas, cerca de 327%. E ainda, segundo o último Censo da Educação Superior realizado em 2009, as privadas correspondem a aproximadamente 90% de todas as Instituições de Educação Superior (IES) no Brasil e 4.430.157 matrículas, o que representa que 3 em cada 4 estudantes de graduação (74,4%) encontram-se na educação privada.
O “boom” das instituições privadas ocorreu durante o governo Fernando Henrique onde a privatização das matrículas caminhou a passos largos. Em 1994 os estudantes de instituições privadas correspondiam a 58,4% dos estudantes e em 2002, ao fim do segundo governo chegaram a 69,2%. Este fortalecimento do empresariado da educação privada foi uma das marcas registradas da política privatista do governo do PSDB na educação superior, no entando a privatização continuou caminhando a passos largos durante o governo PTistas, sendo que em 2009, o percentual de estudantes nas instituições privadas chegou a 74,4%.
Porém, apesar do grande crescimento das matrículas em instituições privadas no governo Fernando Henrique, o mercado começou a entrar em crise devido ao grande número de vagas ociosas, afinal, as vagas eram abertas nas instituições privadas, mas a população não tinha condições de se manter pagando as mensalidades.
As políticas públicas de salvamento dos empresários
FIES: Em resposta à crise das instituições de ensino superior privadas em 1999 Fernando Henrique lançou um programa que deveria funcionar como um bote salva vidas dos empresários da Educação. O FIES visa que o governo garanta o lucro das empresas de educação ao financiar as mensalidades de estudantes. O governo paga às instituições privadas pela vaga que estaria vazia se ninguém pudesse pagar por ela e posteriormente o estudante paga ao governo de forma parcelada pela vaga na instituição privada. Este programa foi mantido por Lula, e agora, está sendo aprofundado pelo governo Dilma. Esta pretende facilitar que mais estudantes possam contribuir para os lucros das empresas de educação ao colocar o governo como o fiador dos estudantes, aumentar o prazo de 6 para 18 meses para que cada estudante possa pagar o financiamento ao governo federal, e ainda, reduzir quase à metade a taxa de juros sobre o financiamento, de 6,5% para 3,4%.
PROUNI: Mas o FIES não foi o suficiente para resolver a crise das instituições privadas e no governo Lula foi criado o PROUNI. Neste programa as vagas ociosas dessas instituições são destinadas a estudantes considerados carentes em troca de incentivos fiscais. Nessa medida, se condensa uma das grandes habilidades da política de conciliação de classe e hegemonia do governo Lula, ao atender demandas tanto de empresários quanto de setores oriundos das classes trabalhadoras. Porém, esse atendimento se caracteriza, tão somente, como uma política focal, e em hipótese alguma caminha em direção à universalização da educação no país. Vale ressaltar ainda que, segundo a Receita Federal, só no ano de 2005, as empresas que aderiram ao PROUNI deixaram de contribuir com os cofres públicos em R$105.000.000,00.
Os setores da direção majoritária da UNE (UJS - Sonho e realidade, Mutirão) tentam falsificar o debate sobre o PROUNI dizendo que a oposição de esquerda é contra os Prounistas. Isto é uma grande mentira, entendemos o sentimento dos estudantes que tiveram condições de acessar o ensino superior por meio do PROUNI e afirmamos que o que nos incomoda no programa é o fortalecimento do empresariado da educação, aquele mesmo que ganha rios de dinheiro justamente pelo fato de não existir universidade pública para todos, o inimigo número 1 da educação pública. Por meio da falsificação deste debate buscam apenas esconder a verdade de que são papagaio de pirata do governo federal e de que estão entregando a União Nacional dos Estudantes nas mãos de um governo que é inimigo dos estudantes e amigo dos empresários da educação.
Ainda sobre o PROUNI, é importante dizer que o programa não aparece uma vez sequer no texto do novo Plano Nacional de Educação, só o que aparece é a meta de expansão do FIES. A direção majoritaria da UNE argumenta que o programa não aparece por ser um paliativo enquanto as vagas nas universidades públicas não forem criadas, acontece que só se pode falar que algo é paliativo se a solução real do problema está sendo encaminhada, mas o fato de que, mesmo durante o governo Lula o peso das instituições privadas aumentou de 69,2% para 74,4% dos estudantes, diz apenas que a privatização da educação continua aumentando. Se o programa é paliativo é apenas no sentido de que será uma prioridade do governo apenas enquanto for necessário para os empresários, fato este que pode estar chegando, posto que o ritmo de crescimento das vagas e matrículas em instituições privadas estão entrando em equilíbrio, como mostra o 1º gráfico, de fato vemos também no 2º gráfico que o número de bolsas está estagnando, será que o programa já cumpriu com seu objetivo de salvar os empresários e agora está sendo deixado de lado? Pois é, parece que a máscara está caindo e quem realmente está contra os estudantes Prounistas é o governo PTista e a direção majoritária da UNE!
Embarcando na onda de expansão da indústria privada na educação a presidenta Dilma lança recentemente o PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) que busca ser o “PROUNI do Ensino Técnico” visando deslanchar de vez a expansão do ensino técnico através do financiamento privado e da consolidação da parceria com o Sistema S (Sesi, Senai, etc), que fundou o ensino tecnicizante no Brasil. É preciso repensar a lógica de produção do conhecimento técnico no Brasil, que este seja público e gratuito, voltado para os interesses da classe trabalhadora, que historicamente tem sido expropriada por ter que vender seus conhecimentos técnicos aos patrões.
E a tão esperada Universidade Pública, como vai?
Vai mal, muito mal mesmo! De 1994 a 2002 (os dois governos de Fernando Henrique) a quantidade de matrículas em instituições públicas aumentou em 57,3% enquanto o percentual que essas matrículas correspondiam do total de estudantes diminuiu de 41,6% para 30,8%. De 2002 a 2009 (anos dos governos de Lula faltando apenas os dados de 2010, ainda não publicados pelo MEC) o aumento das matrículas nas instituições públicas foi de 40,3% enquanto o percentual com relação ao total de estudantes diminuiu de 30,8% para 25,6%.
Em ambos os governos (PT e PSDB) a expansão do ensino superior público foi mais lenta que a do privado, levando a um aumento da privatização, e em ambos também a ampliação de vagas não veio com o aumento adequado de financiamento e de estrutura.
A direção majoritária da UNE acusa a Oposição de Esquerda de ser contra a expansão de vagas das universidades pública. Mais uma vez o que esses grupos que dirigem há tanto tempo a UNE buscam fazer é fraudar a realidade, pois a oposição é quem de fato defende a expansão da educação pública. Somos contra o estado de extrema carência de verbas e estrutura que os modelos tucano e PTista de expansão impõe à educação pública.
REUNI: Mais recentemente, o governo Lula, em seu segundo mandato, supostamente expandiu o sistema público de educação superior nacional, para isso se utilizou do REUNI (Programa de Apoio a Planos de Expansão e Reestruturação da Universidades Federais). Essa medida apesar do forte alarde quanto à expansão, na verdade, além de não significar uma expansão tão vultuosa quanto diz a propaganda, tem servido para mascarar a enorme expansão privada.
Além do mais, este programa, sob o slogan da expansão, tem contribuído para reorientar a formação profissional no sentido de encurtar o tempo de formação bem como reduzir o papel da educação ao caráter meramente técnico. E como se não bastasse, tem precarizado o trabalho docente e técnico nas universidades que aderiram ao programa, na medida em que a expansão das vagas não é acompanhada pela contratação adequada de docentes e técnicos, bem como as condições estruturais, posto que também não ocorre o necessário aumento de financiamento.
As Instituições Federais de Ensino Superior foram praticamente obrigadas a aderir ao REUNI e a resistência do Movimento Estudantil à precarização que vinha junto com o programa foi duramente reprimida nessas instituições. Para aprovar o REUNI foram feitas reuniões de Conselhos Universitários dentro de áreas militares, em reuniões às escondidas e reuniões cercadas pelo exército e a direção majoritária da UNE foi conivente (pra não dizer cúmplice) desse “espetáculo democrático”.
Ensino a Distância (EaD): Outro aspecto do processo de precarização da educação no país ocorre através da expansão do Ensino a Distância (EaD). Segundo dados do INEP (2009), o EaD é responsável por 14% das matrículas na educação superior (838.125), isto é, 1 em cada 7 estudantes de graduação estudam a distância, para se ter uma ideia, em 2002, o EaD respondia por 1,2% das matrículas (40.714), e portanto, neste período (1º e 2º mandatos de Lula), a EaD cresceu 1.959%. Só lembrando que a EaD não proporciona a mesma riqueza de formação encontrada nos cursos presenciais, sendo extremamente limitada em cumprir com pesquisa e extensão, comprometendo dessa forma o tripé que deve orientar a educação superior (ensino, pesquisa e extensão). Além de não possibilitar a mesma interação com os colegas e professores que a presencial proporciona.
Nas instituições públicas o EaD correspondeu em 2009 a 11,4% das matrículas (172.696) um aumento de 80 % se comparado com 2002, ano em que correspondiam a 3,2% das matrículas (34.322).
Sistema de seleção unificada (Sisu): [provisório] O Sistema de Seleção Unificada (Sisu), criado pelo governo Lula, é tido como arrojado pelo governo, afinal agora, com uma prova, o estudante pode ter acesso a disputar o ingresso em diferentes Federais. Porém, uma questão deve feita: quem pode, caso seja aprovado, viajar e se manter estudando por alguns anos fora de sua cidade? A resposta a essa questão desmascara o discurso de mobilidade, já que não resolve a dificuldade de acesso e permanância na universidade a estudantes de baixa renda.
Outro aspecto a ser considerado é que esta prova, na prática, padroniza os currículos de ensino médio de acordo com as diretrizes estabelecidas na prova, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Dessa forma, a autonomia didático-científica das Instituições Federais de Educação Superior (IFES) fica comprometida. Não que não devamos questionar o modelo de acesso estudantil às IFES e demais Instituições de Educação Superior (IES), este deve ser severamente criticado, pois é o “gargalo” que tem limitado o ingresso de estudantes oriundos das classes trabalhadoras à educação superior. Mas também, devemos ser críticos em relação às medidas que se mostram “a solução” mas na prática não eliminam esse gargalo.
Falta de políticas de permanência estudantil: Dentre as ações fundamentais à garantia do direito à educação estão as políticas de permanência estudantil, também chamadas de gratuidade ativa. Uma universidade não pode ser chamada de pública e gratuita se nela só conseguem se manter aqueles cujas famílias podem pagar um aluguel e os demais custos da vida universitária. Deste modo a carência de vagas nas moradias estudantis das universidades públicas, restaurantes universitários, bolsas alimentação e demais bolsas de estudos, também colocam em cheque o caráter público das universidades públicas brasileiras hoje em dia.
Privatização das pesquisas: Se é verdade que a maior parte da população já é excluída da universidade pública devido à falta de vagas e o gargalo do vestibular, esta realidade é ainda mais grave no que diz respeito aos benefícios das pesquisas das universidades públicas. O mecanismo de privatização das pesquisas é simples: os governos estrangulam o orçamento das universidades e as universidades buscam o financiamento para suas pesquisas nos convênios com as empresas privadas, a partir daí o que comanda a pesquisa é a lógica do velho ditado “quem paga a banda escolhe a música”. Não à toa, vemos por aí centros de pesquisas de doenças tropicais sendo fechados e em seu lugar aparecendo centros de pesquisas em cosméticos, acordos milionários das fundações de apoio à pesquisa com as grandes empresas do agronegócio, enquanto as pesquisas que denunciam que os usineiros de cana submetem os trabalhadores a condições extremas de exploração, que fazem com que eles vivam menos tempo do que os escravos, não obtém financiamento.
Isto tudo já acontecia no governo Fernando Henrique, mas foi aprofundado no governo Lula com medidas como a Lei de Parcerias Público Privadas (Lei 11.079 de 2004) e a Lei de Inovação Tecnológica (Lei 10.973 de 2004).
Democracia na Universidade - A gente não vê por aqui
Outro aspecto a se levantar sobre o ensino superior brasileiro é a extrema falta de democracia.
Nas instituições privadas os professores não tem autonomia para defender ideias contrárias aos interesses das instituições, estão sempre sob o risco de demissão, já que seus contratos de trabalho não garantem a mesma estabilidade dos professores das universidade públicas. Os estudantes, por sua vez têm seu direito a movimentação política bastante restringido pela universidade, sendo que uma das primeiras barreiras em várias universidades são as próprias catracas, que controlam quem pode ou não entrar. A perseguição aos estudantes que ousam resistir na luta em defesa da educação também dificulta em muito a organização do Movimento Estudantil nas Instituições privadas.
Nas Instituições Públicas a situação também está longe do ideal mesmo se tratando de funcionários públicos a perseguição e as demissões de servidores das universidades estão se tornando cada vez mais comuns. No que diz respeito aos estudantes a perseguição também é crescente, sendo que os estudantes estão sendo punidos e reprimidos em suas manifestações nas universidades do país inteiro. Um exemplo dessa falta de democracia foi o processo de aprovação do REUNI nas Instituições Federais de Ensino Superior.
Para além da repressão direta às manifestações estudantis, há também a falta de democracia nas tomadas de decisão das Instituições, e, neste sentido, os governos de Fernando Henrique e Lula se identificam novamente já que a Lei de diretrizes e bases do governo Fernando Henrique prevê que 70% dos votos nos órgãos de decisão das universidades públicas sejam ocupados pelos professores e o Projeto de Lei 7200/06 (Projeto de Reforma Universitária do governo Lula, que foi posteriormente aprovado parcelado em diversos projetos) também defende a participação majoritária dos professores nas decisões.
Por uma avaliação de verdade - Boicote ao ENADE!
Mas se a educação está com tantos problemas assim não é necessária uma dura avaliação para buscar as soluções? Claro que sim e os estudantes sempre estiveram entre os avaliadores mais rigorosos do sistema educacional. Sempre que saímos em luta pela contratação de mais professores, por mais livros nas bibliotecas, por mais assistência estudantil, contra as reformas curriculares que prejudiquem os cursos estamos olhando pra universidade e avaliando que as coisas não vão bem, além disso já estamos propondo a solução dos problemas. Sendo assim o Movimento Estudantil faz avaliação do Ensino Superior o tempo todo.
No entanto, os sistemas de avaliação propostos pelos governos de Fernando Henrique (Provão) e de Lula (Enade) vão na contra mão da avaliação que a educação precisa. Ambos os sistemas promovem um ranqueamento das instituições de ensino superior baseado no desempenho dos estudantes em uma prova que é igual para todos os cursos de uma determinada área no país inteiro.
Desse modo, tanto o Provão como o Enade, atacam um dos fundamentos do desenvolvimento de uma educação superior pública inserida em um projeto de país autônomo, na medida que as provas, por serem iguais para todo o país visam formatar os cursos para que sigam o formato desejado pelo MEC, o que atrapalha a criatividade e a diversidade dos cursos. Mas se as universidades não tem autonomia para definir como modelar seus cursos, quem vai modelar? Que interesses podem definir a orientação dos currículos? A autonomia de desenvolvimento científico do país está fortemente vinculada à diversidade e autonomia didático científica das universidades, se os cursos são todos avaliados por uma mesma prova essa diversidade fica condenada.
Para as instituições privadas tanto o Provão, como o Enade, funcionam como um forte mecanismo de propaganda, afinal, quem nunca viu uma propaganda de universidade falando que tem tantos cursos com nota máxima no Enade? Mesmo que muitas vezes as instituições criem cursinhos para a realização do Enade ou distribuam prêmios para estimular o bom desempenho dos estudantes. A despeito disto, quem está nestas instituições sabe que as coisas não estão tão belas como aparece na propaganda.
Por isso defendemos o Boicote ao Enade! Para que seja feita uma avaliação de verdade da situação da educação, uma avaliação que, ao invés de ranquear as universidades, se proponha a detectar e corrigir os problemas da educação superior brasileira. Problemas esses que tem como centro o total descaso dos governos com uma política séria de financiamento da educação e de garantia do acesso e da permanência na educação pública para toda a população.
Nariz de porco não é tomada!
Frente a todos esses elementos de análise da educação superior brasileira, pretendemos resolver a profunda confusão na qual a direção majoritária da UNE tem tentado jogar o Movimento Estudantil.
Tentamos analisar as políticas educacionais brasileiras sob o seguinte aspecto: As medidas fortalecem ou fragilizam o principal inimigo da educação pública, gratuita e de qualidade para todas e todos, que é o empresário da educação?
Sob este método de análise não podemos nos furtar de dizer que tanto PSDB como PT operaram em seus governos em favor da privatização da educação, e portanto contra o direito à educação.
À parte de tudo isso, a direção majoritária da UNE tem cumprido um papel de advogado do governo PTista e de fraudadora da realidade. Nos congressos da UNE e das UEEs os espaços de debate são esvaziados, os grupos de discussão são eliminados, onde os estudantes presentes teriam igual tempo pra expor suas opiniões e distorce os fatos com mentiras absurdas como dizer que a oposição é contra os prounistas, ou contra a expansão das universidades públicas.
No entanto a oposição de esquerda está aqui pra dizer que nariz de porco não é tomada, pra desmascarar essas políticas educacionais que, em seu caráter geral vão no mesmo sentido dos governos anteriores, pra Romper as Amarras que prendem a nossa entidade aos advogados do governo e construir a luta pra Romper as Amarras que prendem a educação aos interesses do Capital.